INTRODUÇÃO
Veremos que os três últimos capítulos
de Daniel constituem “uma
unidade profética”, pois, não anunciam
novos oráculos. Estes últimos capítulos (Dn 10 a 12), preenche os detalhes
do futuro de Israel, concentrando-se no período do Anticristo e na questão
relacionada com "as últimas
coisas" a saber: a Grande Tribulação, a
ressurreição dos mortos, as recompensas e os castigos finais. Estudaremos
também a visão do homem vestido de linho, que é uma aparição de Cristo no
Antigo Testamento.
I – INFORMAÇÕES SOBRE A VISÃO DE
DANIEL CAPÍTULO 10
Os capítulos 10, 11 e 12 de Daniel faz
parte da “última visão” do profeta Daniel.
Como vimos em lições passadas, Daniel
viveu tempo suficiente para ver a profecia de Jeremias se cumprir e o primeiro
grupo de judeus exilados voltar para a terra e começar a reconstruir o templo.
Se o profeta, como já estudamos em lições passadas, estava entre 14 a 17 anos quando foi levado
para a Babilônia. Então na época desta visão, ele estava entre seus 80 e 87
anos, alguns sugerem 90.
A visão foi dada no ano terceiro de Ciro
(Dn 10.1), “dois anos após o retorno
dos judeus à Palestina”. Ora, Ciro decretou
o regresso dos judeus do Exílio no “primeiro
ano do seu reinado” (Ed 1.1-5). Então o “terceiro ano de Ciro”, rei da Pérsia era (c. 536 a.C.). A restauração e a
reconstrução do templo já começara (Ed caps. 1 ao 3), mas foi interrompido por
pressão dos inimigos (Ed 4.4-5). Tais notícias devem ter ferido o coração de
Daniel estimulando-o a buscar a face de Deus uma vez mais. “Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três
semanas...” (Dn 10.2,3)
(ADEYEMO et al, 2012, p. 1034).
II – ANALISANDO A REVELAÇÃO DE
DANIEL
O fato de Daniel estar junto ao rio
Hidéquel (rio Tigre) oferece-nos a razão dele não ter voltado a Jerusalém com os
demais peregrinos. Aparentemente, esse retorno era impossível para Daniel,
primeiro devido à sua idade, segundo por causa de suas ocupações como um dos
administradores do império (Dn 6.1-3). É possível que sua presença no rio Tigre
se devesse a negócios do governo, e aí o profeta vê em visão o próprio Filho de
Deus na sua preencarnação (GILBERTO, 1984, p. 53), através de uma teofania, do
grego “theos” Deus e “phania”
manifestação em forma humana (cap. 10) (ANDRADE,
2006, p. 339). Daniel registrou o momento em que recebeu esta visão: “No dia vinte e quatro do primeiro mês, estando
eu à borda do grande rio Tigre” (Dn 10.4).
Analisemos esta visão:
A preocupação do profeta
Daniel (Dn 10.1-3)
Daniel havia jejuado, orado e não se
ungiu com óleo durante três semanas enquanto buscava o Senhor. Um dos motivos
para isso era, provavelmente, sua preocupação com os quase cinquenta mil judeus
que haviam saído da Babilônia e viajado para sua terra natal a fim reconstruir
o templo. Uma vez que Daniel tinha acesso a relatórios oficiais, sem dúvida
ficou sabendo que o remanescente havia chegado em segurança em Jerusalém e que
todos os tesouros do templo estavam intactos. Também deve ter ouvido que os
homens haviam lançado os alicerces do templo, mas que o trabalho havia sofrido
oposição e, por fim, parado (Ed 4). Sabia que seu povo estava sofrendo
privações na cidade arruinada de Jerusalém e perguntou-se se Deus iria deixar
de cumprir as promessas que havia feito a Jeremias (Jr 25.11,
12; 29.10-14) (WIERSBE, 2010, p. 368).
O duplo sentido dos 70 anos.
É possível que Daniel não tivesse
compreendido que a profecia dos setenta anos tinha uma aplicação dupla,
primeiro para o povo e depois para o templo. Os primeiros judeus foram
deportados para a Babilônia em 605
a.C., e os primeiros cativos voltaram em 535 a.C., exatamente setenta anos depois. O templo foi destruído pelo exército babilônio em 586 a.C., e o segundo templo
foi completado e consagrado em 516
a.C., outro período de exatamente setenta anos. Daniel estava aflito para que a Casa do Senhor fosse
reconstruída o quanto antes, mas não percebeu que Deus estava realizando seus
planos com perfeição. As obras foram interrompidas em 536 a.C.,continuaram em 520 a.C. e foram completadas
em 516 a.C.
Esse adiamento de dezesseis anos manteve tudo dentro do cronograma. (WIERSBE,
2010, p. 368).
III - UMA VISÃO EXTRAORDINÁRIA
O MOTIVO DO JEJUM DE DANIEL
“Naqueles dias eu, Daniel,
estive triste por três semanas completas”(Dn
10.2). A razão do seu lamento e tristeza acompanhada de jejum é certamente
explicada pela data mencionada no versículo 1: "No terceiro ano de Ciro". É que por volta do terceiro ano de Ciro, a obra iniciada da
reconstrução do templo, fora embargada (Ed 1-3; 4.4,5). Daniel, como patriota e
membro da nação eleita, preocupava-se com o futuro de sua nação; como já vimos
este exemplo na sua oração do capítulo 9. Contudo, havia ainda outro motivo
para Daniel jejuar e orar: desejava entender melhor as visões e profecias que
já havia recebido e ansiava por mais revelações do Senhor sobre o futuro de
israel.
A DURAÇÃO DO JEJUM DE DANIEL
“Alimento desejável não
comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca... até que se cumpriram as
três semanas” (Dn 10.3). O
presente versículo apresenta um jejum intensivo feito por Daniel por 21 dias. A
perseverança do profeta na oração e no jejum por três semanas pela situação do
povo em Jerusalém ocasionou a resposta divina (Dn 10.12). O israelita jejua
quando está de luto (1Sm 31.13; 2Sm 1.12; 3.35), ou quando está em graves
dificuldades e espera de Deus o auxílio de que necessita (2Sm 12.16; 1Rs 21.27;
Sl 35.13). Também se jejua em preparação para receber a revelação de Deus, como
b em pode ser depreendido do texto de Êx 34.28 e do presente texto, ou antes de
um empreendimento difícil (Ed 8.21-23; Et 4.16) (SILVA, 1986, p. 187).
O TEMPO DO JEJUM DE DANIEL.
“E no dia vinte e quatro do
primeiro mês...” (Dn 10.4). Alguns pesquisadores defendem que três dias
depois do fim de seu jejum de três semanas, Daniel teve uma visão assustadora quando
estava à beira do rio. Já outros dizem que a expressão “no dia vinte e quatro do primeiro mês” quer dizer que Daniel iniciou esta abstinência no terceiro
dia do mês e concluiu no 24º dia. O rio Hidéquel traz este nome que em assírio e
grego corresponde ao rio Tigre. Era um dos rios que assinalavam a localização
do jardim do Éden (Gn 4.2,14) (SILVA, 1986, p. 187).
A RESPOSTA DO JEJUM
"[…] o príncipe do
reino da Pérsia". (Dn 10.13). Esse “príncipe”
não era de origem terrena, tratava-se de um anjo diabólico tão forte, que a
vitória só foi decidida quando Miguel, o poderoso arcanjo, entrou em ação e
assim a resposta da oração chegou a Daniel (Dn 10.13). Assim como Deus tem
anjos que protegem nações, Satanás também tem os dele, que operam, mas a seu
modo. Ao que parece, há anjos perversos específicos incumbidos nas diversas
nações; que alguns estudiosos de angelologia chamam esses seres de "espíritos territoriais". Esse anjo mau da Pérsia controlava os destinos desse país,
mas foi desbancado pelos anjos de Deus. “E
eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (v. 13) (GILBERTO, 1984, p. 55).
GABRIEL E MIGUEL: DOIS MENSAGEIROS
DO SENHOR
"[…] e eis que Miguel,
um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me..." (v.13). A expressão "primeiros" é literalmente
"principais". Isto mostra que os anjos dividem-se em categorias, já a
palavra "príncipe", no hebraico "sor", corresponde a “chefe; aquele que domina”. O arcanjo Miguel
é anjo guardião de Israel (Dn 10.21; 12.1). A palavra “arcanjo” do grego “archangelos” significa “anjo principal”. O prefixo “arch” sugere
tratar-se de um anjo chefe, principal ou poderoso. Na Bíblia Sagrada, mais precisamente
em Judas v.9 e I Tessalonicenses 4.16, aparece a menção de apenas um arcanjo:
Miguel. Seu nome em hebraico significa: “Quem
é como Deus”. Nas Escrituras, Miguel é descrito
como: o arcanjo (Jd v.9); o líder das hostes angélicas no conflito com Satanás
e os seus anjos maus (Ap 12.7); um dos primeiros príncipes (Dn 10.13); “vosso Príncipe”
(Dn 10.21); e o grande príncipe, “defensor dos filhos do teu povo” (Dn I2.I).
Gabriel, cujo nome quer dizer “homem
de Deus” ou “herói de Deus”. Significa, também, “o
poderoso”, evidenciando o que o nome sugere (GILBERTO et al, 2008, p. 454,455).
IV - A DESCRIÇÃO DO HOMEM VESTIDO
DE LINHO
Se considerarmos como dizem alguns
teólogos que esse “homem vestido de linho” dos versículos 5 ao 9 é o mesmo ser que tocou e falou com
Daniel nos versículos 10 a
15, então, teríamos de optar por Gabriel ou algum outro anjo, pois é impossível
que Jesus precisasse da ajuda de Miguel para derrotar um anjo perverso como
está escrito no versículo 13. Contudo, o ser que tocou Daniel e que falou com
ele nos versos 10 a
15, não foi o mesmo “homem
vestido de linho” que lhe apareceu na
visão anterior. A descrição do “homem
vestido de linho” assemelha-se a
descrição do Cristo glorificado que encontramos em (Ap 1.12-16), e a reação de
João frente a este homem “E,
eu, quando vi, caí a seus pés como morto...” (Ap. 1.17) foi a mesma de Daniel “... e não ficou força em mim; e transmudou-se em
mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma” (Dn 10.5). Esse homem em ambas referências era o Cristo pré-encarmado,
pois a linguagem é semelhante nestes dois livros e as características também
são as mesmas (Dn 10.5-9; comparar com (Ap 1.12-20). O ponto de vista da
maioria dos estudiosos da escatologia bíblica, é que de fato, é a pessoa de
Jesus no livro de Daniel. A vestimenta de linho fino, a veste celeste, os
lombos cingidos de ouro puro, o seu corpo luzente como berilo, o rosto como um
relâmpago, os olhos como tochas de fogo, os braços e os pés luzentes e como se fossem
de bronze polido, e a voz como a voz de muitas águas, são características INERENTES EXCLUSIVAMENTE ao
Filho de Deus e não de algum anjo seu.
CONCLUSÃO
Vimos que apesar de ter vivido durante
oito décadas numa terra pagã, Daniel manteve seu coração e sua vida puros
diante de Deus. Orava para que o remanescente que habitava em Jerusalém fosse
um povo santo para o Senhor, a fim de que fossem abençoados em seu trabalho.
REFERÊNCIAS
ADEYEMO,
Tokunboh. Comentário Bíblico Africano. Mundo Cristão.
GILBERTO,
Antonio. Daniel & Apocalipse. CPAD.
_______________.
et al. Teologia Sistemática. CPAD.
SILVA,
Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo. CPAD.
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol. IV. Geográfica
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