INTRODUÇÃO
Nesta lição definiremos o que significa o termo legado.
Destacaremos qual foi o legado que Elias deixou. Veremos ainda que, apesar de
Elias pensar que estava sozinho o Senhor lhe dirigiu a palavra dizendo que
havia ainda sete mil adoradores verdadeiros que não se curvaram diante de Baal.
Pontuaremos como se deu a chamada, formação e capacitação do profeta Eliseu
como substituto de Elias. E, por fim, elencaremos quais as lições que podemos
extrair do chamado de Eliseu.
I – O QUE SIGNIFICA LEGADO
O dicionário Aurélio traduz a palavra “legado” da
seguinte forma: “dádiva deixada em testamento; valor previamente determinado,
ou objeto previamente endividado, que alguém deixa a outrem por meio de
testamento”. No contexto da nossa lição, a palavra legado diz respeito a
herança moral, ministerial e espiritual que o profeta Elias, deixou para o seu
sucessor Eliseu, bem como também para todos os servos de Deus em todas as
épocas.
II – QUAL FOI O LEGADO DE ELIAS
Elias como um profeta de Deus, deixou como legado seu exemplo
de vida, seu caráter. O Aurélio define a palavra “caráter” como:
“o conjunto de traços particulares, o modo de ser de um indivíduo; índole;
natureza”. A Bíblia nos revela o caráter moral, ministerial e espiritual deste
homem de Deus. Vejamos cada um deles detalhadamente:
Moral. Esta
expressão diz respeito aos “princípios que regem a vida do ser humano,
mostrando o que é certo e o que é errado” (ANDRADE, 2006, p. 270). Elias
manteve-se íntegro num período de tanta apostasia sob o governo de ímpio rei
Acabe e da maldosa Jezabel (I Rs 16.30,31). Ele mesmo descreve-se como um servo
muito zeloso pelo Senhor (I Rs 19.10).
Ministerial. Já vimos
que, Elias recebera de Deus o chamado para ser profeta (I Rs 17.1). O registro
bíblico nos mostra que ele exerceu seu ministério como um verdadeiro mensageiro
de Deus, pois anunciou que haveria seca sobre Israel, apoiado na Escritura,
como sentença pela indiferença espiritual (Dt 28.23,24; II Cr 7.13); denunciou
a idolatria de Acabe (I Rs 18.18); confrontou Acabe e os profetas de Baal e
Aserá no Monte Carmelo a fim de erradicar a adoração ao ídolo e mostrar para
Israel quem era o verdadeiro Deus (I Rs 18.19-40); e fez conhecida a injustiça
cometida contra Nabote, pronunciando a sentença por este pecado (I Rs 21.17-24).
2.3 Espiritual. O profeta
Elias se tornou uma referência espiritual. Ele é chamado diversas vezes de “homem de Deus” (I Rs 17.18,24; II Rs 1.6,9,11,13). Isto também porque as
palavras proféticas que saiam da sua boca vinham da parte de Deus, porque tinha
real cumprimento, eis algumas: (1) Elias profetizou que não choveria e não
choveu (I Rs 17.1-b); (2) Em seguida anunciou que choveria e realmente choveu
(I Rs 18.41,45); (3) falou a viúva de Sarepta que a farinha e o azeite da
botija não faltaria e não faltou (I Rs 17.14-16); (4) Orou a Deus pela
ressurreição do filho desta mesma viúva e ela asseverou: “...nisto conheço agora que tu és homem de Deus,
e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade” (I Rs 18.24); (5) No monte Carmelo clamou por fogo e o fogo
caiu sobre o altar (I Rs 18.36,38).
III – O REMANESCENTE FIEL NO TEMPO DE ELIAS
A grande apostasia no Reino do Norte durante o reinado de
Acabe e as ameaças de Jezabel aos profetas de Deus, levou o profeta Elias, em
sua fragilidade, algumas vezes, fazer declarações precipitadas, pensando ele
que era o único servo de Deus que restara “...só
eu fiquei por profeta do Senhor...” (I Rs
18.22). Confira também (I Rs 19.10,14). No entanto, a voz divina assegura ao
profeta que havia um remanescente que não tinha se corrompido com a adoração a
Baal (I Rs 19.18). Entre os sete mil adoradores verdadeiros, podemos citar o
nome de alguns, vejamos:
Micaías. Havia
no palácio de Acabe profetas falsos que comiam da mesa de Jezabel, e
profetizavam apenas o que lhe agradava (II Cro 18.5; I Re 18.19). No entanto,
existia também um profeta do Senhor, o seu nome é Micaias que significa: “quem é como Deus”. Ele era um mensageiro de Jeová que se opunha severamente a
práticas do rei Acabe como este mesmo declara (I Rs 22.8). Ele se manteve fiel
ao que Deus lhe mandava dizer (II Rs 22.14,28), apesar de lhe custar prisão,
espancamento e privações (I Rs 22.24, 27).
Obadias. Seu
nome significa “servo de Jeová”. Apesar de ser um “mordomo”
do monarca Acabe (I Rs 18.3,5). Este
homem, temia muito a Deus e aos homens de Deus (I Rs 18.7). Ele ajudou a
ocultar os servos do Senhor a fim de que não fossem mortos por Jezabel (I Rs
18.13).
Eliseu. Seu
nome quer dizer “Deus é salvação”. Sem dúvida alguma, para que Deus escolhesse Eliseu para ser
sucessor do profeta Elias, ele deveria ser um servo fiel. Observa-se isso
também pela sua atitude ao receber o chamado divino, quando obedeceu sem
hesitar, despedindo-se deu seu pai e mãe, mostrando assim ser um bom filho (I
Rs 19.20,21).
IV – A ESCOLHA, A FORMAÇÃO E A CAPACITAÇÃO DE ELISEU
PARA PROFETA
Não resta dúvidas de que Elias exerceu um ministério
extraordinário no Reino do Norte, pois ele foi responsável por ajudar o povo de
Deus a manter a sua identidade espiritual, fazendo com que Israel pudesse
testemunhar que só o Senhor é Deus. Contudo, assim como todos os homens
levantados por Deus, seu ministério estava chegando ao final, por isso
necessitava de um substituto. Para isso, Elias não agiu por conta própria, ele
só o fez quando e como a voz divina lhe orientou a fazer, quando lhe disse: “...e também a Eliseu, filho de Safate de
Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar” (I Rs 19.16). Diante da da ordem divina, Elias prontamente
se dispôs a cumprir (I Rs 19.19). A maneira como Deus utiliza-se de Elias para
separar Eliseu está registrada em (I Rs 19.19-21), este texto nos mostra pelo
menos três aspectos da vocação divina, vejamos quais são:
Chamada. A palavra
“chamar” no hebraico é “qãrã”
que significa “chamar alguém, convidar,
convocar”. O Senhor chama quem Ele quer, inclusive pessoas simples (Am 7.14; I
Sm 16.11). Eliseu, por exemplo, trabalhava arando terra (I Rs 19.19-a). A escolha
de Eliseu foi uma expressão da soberania do Senhor (I Rs 19.16), e ele a fez
através de Elias (I Rs 19.19). A Bíblia registra que ao aproximar de Eliseu “...Elias passou por ele, e lançou a sua capa
sobre ele” (I Rs 19.19-b). O manto de Elias era
feito de peles de animais recobertas de pêlos. Usualmente era empregado o couro
de cabra, com os pêlos do lado de fora.
Esse manto era parte distintiva das vestes de um profeta e o
identificava como vidente (II Rs 1.8; Zc 13.4; Mt 3.4). Acreditava se que o
poder espiritual era transferido ao profeta por meio do seu manto (II Rs
2.13,14). Naturalmente pensamos que isso era um ato meramente simbólico, mas
nos tempos antigos as mantas dos profetas eram consideradas seriamente objetos
de poder. (CHAMPLIN, 2001, p. 1445).
Formação. Apesar de
receber a chamada de Deus, Eliseu não estava pronto. Ele precisava ser formado
por Elias. A expressão “formar” do hebraico “yatsar” significa:
“formar, moldar, modelar”. Como podemos ver, Eliseu não demorou para entender
isso pois receber o chamado prontificou-se a seguir e servir o homem de Deus “...então
se levantou e seguiu a Elias, e o servia” (I Re 19.21-b). Eliseu
se tornou um servo e aprendiz de Elias.
Ele tinha servido bem à sua família. Agora seria fiel e útil ao profeta.
Daquele dia em diante Eliseu passou a andar junto de Elias, acompanhando passo
a passo sua maneira de proceder (II Re 2.1-6) e servindo-o naquilo que era
necessário, de maneira que quando alguém se referiu a Eliseu disse: “...aqui está Eliseu, filho de Safate, que
derramava água sobre as mãos de Elias” (II
Rs 3.11-b).
Capacitação. Ao andar
junto de Elias, Eliseu percebeu que além da chamada que havia recebido e da
formação que estava recebendo do profeta, era necessário algo mais: a
capacitação. Por isso antes de ser tomado, num redemoinho aos céus, o profeta
Elias perguntou-lhe o que ele queria que lhe fosse dado, e Eliseu respondeu: “...peço-te que haja porção dobrada de teu
espírito sobre mim” (II Re 2.9-b). Elias
então disse a Eliseu que isto fora um pedido difícil, no entanto, seria
concedido se ele o visse subir ao céu, o que aconteceu em seguida (II Re
2.10-12). Agora, o profeta Eliseu, ao pegar a capa de Elias, foi conferir se a
capacidade divina de fato estava sobre ele, então deu com a capa no rio Jordão,
que abriu ao meio imediatamente (II Re 2.14). Não foi necessário Eliseu dizer
que estava capacitado, os filhos dos profetas reconheceram isso: “Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que
estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre
Eliseu.” (II Re 2.15-a).
V – O QUE PODEMOS APRENDER COM O CHAMADO DE ELISEU
Disponibilidade. Eliseu
não recusou o chamado divino. Quando Elias lhe lançou a capa, ele se mostrou
disponível “e correu após Elias” (I Rs 19.20-a). Ao recebermos o chamado divino devemos estar
disponíveis seja para o que for. Tal qual o profeta Isaías diante do clamor
divino, devemos responder: “Eis-me
aqui, envia-me a mim” (Is 6.8-b).
Renúncia. Apesar de
ter um trabalho e de amar a sua família, Eliseu demonstrou estar disposto a
renunciar o que fosse preciso para atender a convocação divina “Então deixou ele os bois, e correu após Elias; e
disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei” (I Rs 19.20-a). Tal como os discípulos de Jesus abandonaram
suas redes de pescar e puseram-se a segui-lo (Mt 4.20). Esta deve ser uma
característica de todo aquele que de modo semelhante recebe o chamado divino.
Eliseu se desfez completamente daquilo que exercia antes de receber o chamado
divino, mostrando-nos claramente que dali por diante sua tarefa era outra (I Rs
19.21).
Serviço. O chamado
de Eliseu nos ensina que ao sermos chamados por Deus devemos estar dispostos a
servir. Eliseu como aprendiz aprenderia a exercer o seu chamado servindo a
Elias (I Rs 19.21). Deus prepara o homem que vai usar através de um homem que
já é usado por Ele. A Bíblia cita exemplos dessa verdade, eis alguns exemplos: Josué foi preparado por Deus servindo Moisés (Êx 24.13; 33.11; Nm 11.28; Js 1.1); Samuel serviu a Eli (I Sm 2.11; 3.1); Timóteo
servia a Paulo, a quem ele chama de filho (I Co 4.17; I Tm 1.2,18; II Tm 1.2; 3.14).
CONCLUSÃO
Elias, sem dúvida alguma, foi um homem extraordinariamente
usado por Deus. Seu exemplo de vida, caráter e
ministério se constitui numa herança que o servo do Senhor
deixou não somente para os seus contemporâneos, mas também para todos aqueles
que são chamados por Deus para uma obra específica. A chamada de Eliseu por sua
vez, nos ensina como devemos proceder ante o chamado divino.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN,
R.N. Enciclopedia de Bíblia Teologia e
Filosofia. HAGNOS.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
GARNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada. VIDA.