INTRODUÇÃO
O Livro de Jonas
é considerado como o “João 3.16” do AT e contém o relato do maior
avivamento registrado na Bíblia onde toda a cidade de Nínive abandonou os seus
caminhos iníquos e voltou-se para Deus (Jn 3.1-10). A lição de Jonas nos mostra
as consequências que sobrevêm aos que deliberadamente desobedecem ao chamado de
Deus. Estudaremos acerca deste profeta, considerado-o missionário do AT. Ele
foi enviado a uma nação idólatra para anunciar o Deus Verdadeiro. Porém, esta
lição também se torna uma advertência para nós, pois nos lembra que não podemos
nos esconder diante dos olhos do SENHOR.
I – INFORMAÇÕES
SOBRE O PROFETA JONAS
Identificado
como “filho de Amitai” (2Rs 14.25; Jn 1.1), Jonas do hebraico “Yonah”
era natural da pequena vila de Gate-Hefer que distava uns 4 Km ao norte de
Nazaré, na Galiléia. A tradição judaica diz ser ele o filho da viúva de Sarepta
que foi ressuscitado por Elias, mas isso nunca obteve uma sólida confirmação
(ELLISEN, 2012, p. 350). Portanto, Jonas era galileu, bem como Naum e Malaquias.
É mencionado como sendo um profeta de Israel durante o reinado de Jeroboão II
no distrito da tribo de Zebulom atual Mashhad (2Rs 24.25; Js 9.1) […] Ao que
parece, foi por meio de suas palavras de incentivo que Jeroboão II recuperou os
territórios
perdidos
anteriormente para os sírios (2Rs 10.32-33) e trouxe de volta um pouco da
glória dos dias de Davi e Salomão (1Rs 8.65) [...] (GARDNER, 2005, p. 371). O
livro narra dois grandes milagres: o primeiro é a experiência do profeta no
ventre do grande peixe (Jn 2.1- 10), e o segundo é a conversão inteira de
Nínive, uma cidade pagã (3.1-10).
1.1 Nome. Jonas, cujo nome
significa “pomba” era um nome muito comum em Israel […] era dado
pelas mães aos seus filhos como um título afetuoso, pois a pomba é uma ave que
demonstra muito carinho com os outros membros da sua espécie [...] (CHAMPLIN, 2001,
p. 3547). Foi um profeta do Reino do Norte conhecido também como Samaria ou
Efraim, e seu vaticínio aos ninivitas não foi o único de seu ministério. No
período do rei Jeroboão II, quando era rei de Samaria, este restabeleceu os
termos de Israel de acordo com
uma profecia do
profeta Jonas (2Rs 14.23-25). Jonas foi chamado para pregar aos inimigos do
povo de Deus, os assirios (Jn 1.1), que tinham um histórico de maldades e
crueldades para com os povos dominados.
1.2 Livro. Este livro,
diferentemente de qualquer outro do AT, contém de forma clara a mensagem da
graça salvífica de Deus tanto para judeus como para gentios. Jonas de forma
diferente dos outros profetas de Israel (Reino do Norte) e de Judá (Reino do
Sul), foi chamado por Deus, para fazer algo que não estava em seu coração.
Assim sendo, ele fugiu para escapar da desagradável tarefa de pregar à pagã
cidade de Nínive que ficava cerca de 960 Km a nordeste da Galileia, viagem que
durava em torno de três meses.
(SCHULTZ, 2009,
p. 3553).
1.3 Período que
profetizou. O
período histórico do ministério de Jonas é narrado com detalhes em II Reis 14 e
15 e, nesses tempos, a Assíria exercia seu poderio no Oriente Médio. Era uma
nação cruel e detestada por suas práticas desumanas. Jonas viveu na época de Jeroboão
II, entre 793-753 a.C, quando o reino de Israel vivia sob pressão dos assírios
(SOARES, 2003, p.209). O nome do rei ninivita impactado com a pregação de
Jonas, segundo se diz, é Adade-Nirari III, falecido em 783 a.C. Nínive era a
capital do império assírio –
inimigos
declarados do povo de Israel.
1.4
Contemporâneos. O
ministério de Jonas teve lugar pouco depois do profeta Elias (2Rs 13.14-19),
que coincidiu parcialmente com o profeta Amós (Am 1.1) e foi seguido pelo
profeta Oseias (Os 1.1) (STAMPS, 1997, p.1313).
II – A SITUAÇÃO
DE ISRAEL E NÍNIVE
2.1 Situação
política. A
relação da Assíria com Israel (Reino do Norte) não era das melhores. Israel
pagava tributos à Assíria até que Jeroboão II rebelou-se contra seus inimigos
(2Rs 10.32-33; 1Rs 8.65). Independência política, expansão e prosperidade
caracterizaram a nação de Israel durante o clímax do sucesso de Jeroboão II […]
A dinastia de Jeú eventualmente conduziu o reino do Norte (Samaria ou Efraim)
ao pico do prestígio econômico e político, durante a primeira metade do século
VIII a.C. (SCHULTZ, 2009, p. 438).
2.2 Situação
social. Israel
sentia-se seguro e estava em ascensão, enquanto a Assíria achava-se em declínio
político (ELLISEN, 2012, p. 353). As relações comerciais se expandiram e o
comércio internacional floresceu acima de qualquer coisa que Israel conhecera desde
os dias de Salomão. Nesta época de êxito comerciais e de expansão territorial,
a cidade de Samaria (Reino do Norte) fortificouse diante da possibilidade de invasão
estrangeira (SCHULTZ, 2009, p. 439).
2.3 Situação
espiritual.
Quando Israel (Reino do Norte) atingiu seu período culminante, apareceram dois
profetas: Amós e Oseias.
Cada um deles,
por sua vez, procurou despertar os cidadãos de Israel de sua letargia
espiritual, mas nenhum deles conseguiu desviar o povo da apostasia (SCHULTZ,
2009, p. 440).
III – CONHECENDO
UM POUCO A CIDADE DE NÍNIVE
Geograficamente,
Nínive estava localizada a leste do rio Tigre e distante aproximadamente 960 Km
de Israel, uma viagem de três meses nos tempos antigos. A Cidade de Nínive
(atual Iraque) foi fundada por Ninrode, filho de Cam, neto de Noé, por volta de
4500 a.C. (Gn 10.11-12). Assíria é conhecida como o país de Ninrode (Mq 5.6),
vindo Nínive a se tornar a capital do império assírio. Esta cidade é mencionada
no tempo do rei caldeu Hamurabi como sendo a sede do culto de Istar. Em (2Rs
19.36) e em (Is 37.37) é ela, pela primeira vez, claramente indicada, como
residência do monarca da Assíria. O rei assírio Senaqueribe reedificou-a, e foi
morto ali quando estava em adoração no templo de Nisroque, seu deus. Nos dias
do profeta Jonas era aquela capital “uma cidade mui importante [...] e de
três dias para percorrê-la” (Jn 1.2; 3.3). Os ninivitas era um povo de
guerra, e eram conhecidos por sua crueldade. São indescritíveis as torturas que
eles aplicavam aos seus prisioneiros. A arte bélica era a principal
característica dos assírios. Os palácios de Nínive eram cobertos de esculturas
em baixo-relevo, representando cenas de batalhas e da vida cotidiana dos assírios.
Nos tempos de Jonas calcula-se que sua população era de 600.000 habitantes,
incluindo 120.000 crianças e muitos animais.
O muro externo
da cidade tinha 96 Km de extensão, 30 metros de altura e uma largura suficiente
para três carroças conduzidas lado a lado. Havia 50 torres de 60 metros de
altura para o serviço de vigilância realizado pelas sentinelas (ELLISEN, 2012,
p. 352).
IV – A MENSAGEM
DE DEUS ATRAVÉS DE JONAS
Este livro é um
sério apelo para a ação evangelística e missionária da Igreja, que foi chamada
para proclamar a Palavra (Mt 28.18-20; Mc 16.15-18; Jo 20.21; At 1.8). Jonas é,
com certeza, um profeta bem diferente dos demais chamados de “menores”. Ele
teve um chamado missionário, e fez o que foi possível para fugir dessa vocação
divina. O tema principal do livro é a infinita misericórdia de Deus e a sua
soberania sobre TODAS as nações, ou seja, o Senhor está interessado em
salvar TODAS as pessoas de TODAS as nacionalidades e de TODAS as
tribos (Ap 7.9-10). Segundo Donald Stamps o comentarista da Bíblia de Estudo
Pentecostal (1997,
pp.1312-1313),
depreende-se neste livro uma tríplice mensagem: demonstrar a Israel (Reino do
Norte) e às nações pagãs a magnitude e a ampliação da misericórdia divina
através da pregação do arrependimento; demonstrar, através da experiência de
Jonas, até que ponto Israel (Reino do Norte) decaía de sua vocação missionária
original, de ser luz e redenção aos que habitam nas trevas (Gn 12.1-3; Is
42.6-7; 49.6) e lembrar ao Israel apóstata que Deus, em seu amor e
misericórdia, enviaria à nação, não um único profeta, mas muitos
fiéis, que
entregariam sua mensagem de arrependimento.
V – O PROFETA
QUE FUGIU DE SUA MISSÃO
Quando Deus mandou Jonas pregar àquela cidade,
ele recusou-se a ir, por causa do ódio que sentia pelos assírios (Jn 4.1-4).
Os guerreiros
assírios eram considerados os mais sanguinários e brutais e gostavam de
inventar novas formas de torturar os prisioneiros. Frequentemente, obrigavam
seus prisioneiros abrir a barriga das grávidas e arrancarem seus filhos e
lançarem nas pedras, arrancavam a pele das pessoas, suas unhas, seus olhos, sua
língua ou as erguiam no ar espetadas no peito por uma grande lança.
Talvez, pelo
fato de conhecer a crueldade dos assírios, Jonas tenha relutado, pois seu
próprio povo já tinha sofrido muito nas mãos deles e, naquele tempo, seus
exércitos ameaçavam Israel. Seu livro mostra a resistência desse profeta ao
propósito divino de evangelizar a raça mais cruel do mundo da época. E o que
vamos verificar é que o inexplicável amor de Deus para com Nínive não encontra
eco no coração de Jonas. Foram os preconceitos de Jonas que o levaram a fugir
da Missão que Deus lhe havia ordenado.
Vejamos quais
são:
• Preconceitos
políticos: Os ninivitas eram velhos inimigos de seu povo;
• Preconceitos
raciais: Os ninivitas eram gentios e não pertenciam ao povo escolhido
(Israel);
• Preconceitos
religiosos: Os ninivitas eram um povo tão idólatra e pagão que nem
devia ser perdoado.
Quantas vezes os
nossos preconceitos nos impedem de sermos úteis a Deus. Os nossos preconceitos
as vezes sufocam o amor às pessoas; aniquila nossa compaixão; obscurece nossa
visão; seca as fontes da nossa espiritualidade e empobrece nossa mensagem.
Jonas conhecia muito bem Nínive e a odiava porque sabia de suas crueldades, e
também conhecia a Deus e seu amor, e sabia que Ele é misericordioso e grande em
benignidade (Jn 4.2) e com certeza iria dar uma oportunidade de conversão
aquele povo pagão. De acordo com a Revista Ensinador Cristão (2012, Ano 13, nº
52, p.39), não é demais chamá-lo de: egoísta: ele pensou em si mesmo
com seu indiferentismo, e não na nação á qual Deus mandara ir; vingativo:
ele desejava que os ninivitas fossem exterminados por Deus, por causa
dos seus pecados e das atrocidades que cometeram e orgulhoso: seu
senso nacionalista era muito forte, fazendo-o crer que ele estava acima da
vontade de Deus.
Apesar da
relutância em levar a mensagem, os ninivitas demonstraram a sua fé em Deus,
humilhando-se perante Ele e jejuando, onde até mesmo a inclusão de animais no
jejum é documentada em fontes extrabíblicas, tais como Heródoto, historiador grego,
nascido no séc. V. a.C.
VI – A
ATUALIDADE DA MENSAGEM DE JONAS PARA A IGREJA
Jonas era o
típico judeu que nunca entenderia como seria possível que Deus viesse a amar os
assírios. Ao contrário, ele esperava que o Deus Javé se voltasse contra eles e
os destruísse. O registro da missão do profeta jonas é LITERAL, e portanto, HISTÓRICO
e não ALEGÓRICO como alguns teólogos liberais afirmam. Assim, o livro foi
interpretado pelo Senhor Jesus (Mt 12.38-42; 16.4; Lc 11.29-32). O relato
de Jonas mostra que ninguém pode fugir de Deus, e que o amor de Deus excede
todo entendimento humano (SOARES, 2003, p.210). Ao invés de ir para
Nínive (atual Iraque), Jonas tomou um navio para Társis (considerada por muitos
estudiosos, como sendo Tartessus, situada na costa sudoeste da atual Espanha),
um lugar muito distante de onde Deus o havia enviado.
O registro de
Jonas é uma ilustração veterotestamentária da verdade contida em João 3.16 “Porque
Deus AMOU O MUNDO de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
TODO aquele que nele CRÊ não pereça, mas TENHA a vida
eterna”.
Deus ensina ao
profeta contrariado, que Ele se deleita em colocar sua graça à disposição de
TODOS os homens sem acepção, e não apenas de Israel e Judá. O Senhor faz o
profeta entender que tomou as rovidências
para que houvesse uma missão de misericórdia, com a finalidade de prover
remédio para o pecado e para a degradação moral e espiritual de todo o mundo e
demonstrar ainda que: Deus está interessado não somente em um povo seleto
(Israel), mas também nos gentios (Gn 12.1-3; Is 42.6-7; 49.6). Se Deus teve
tanto interesse
pelo futuro de Nínive uma nação pagã, então TODOS OS POVOS devem ser vistos
como objetos de seu amor, graça e misericórdia. E assim Jonas aprendeu a lição:
• Que a salvação
não é recebida por obras, mas pela graça mediante a fé demonstrada pelo
arrependimento, como ocorreu com os ninivitas (Rm 10.9; 13; Ef 2.5; 8);
• Que o Deus dos
hebreus, também expressava amor e interesse pelo mundo todo, e que oferecia o
perdão e salvação até mesmo aqueles que Jonas preferia odiar (Jn 4.10-11);
• Que ele mesmo
experimentou o perdão de Deus quando foi desobediente e recebeu uma nova
oportunidade para obedecer, e esta mesma oportunidade foi dada aos ninivitas
(Jn 2.1-10; 3.1);
• Que Deus julga
a iniquidade em todas as esferas e, do mesmo modo, reage ao arrependimento de
todas as nações (Ez 18.21).
CONCLUSÃO
Ao estudar o
livro de Jonas, percebemos que fora escrito com o propósito de lembrar o alto
valor da pregação missionária. Deus não quer que ninguém se perca, mas deseja
que todos venham ao arrependimento (2Pe 3. 9). E que apesar das imperfeições do
pregador, a mensagem de Deus alcançou o resultado desejado e sua imensa
compaixão pelos homens foi demonstrada eficazmente.
REFERÊNCIAS
• GARNER, Paul. Quem
é quem na Bíblia Sagrada. VIDA
• ELISSEN,
Stanley. Conheça melhor o Antigo Testamento. VIDA.
• CHAMPLIN, R.N.
O Novo Testamento Interpretado versículo por Versículo. HAGNOS.
• SOARES,
Esequias. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. CPAD.
• STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD
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