INTRODUÇÃO
O Tribunal de Cristo é o julgamento dos servos de Deus
quanto às suas obras na Terra (2Co 5.10; Rm 14.10).
Analisaremos que neste julgamento não seremos julgados
quanto à nossa posição e condição de salvos, e sim, quanto ao nosso desempenho
como servos do Senhor. Pontuaremos ainda que nesse grande julgamento da Igreja,
todos hão de prestar contas de sua administração (Lc 16.2; 19.13), e que
naquele dia, o Senhor requererá o nosso “relatório” (Ml 3.16-18). E por fim,
concluiremos mostrando que o Senhor nos julgará quanto à mordomia daquilo que
nos entregou (Lc 12.16-20; 1Co 6.12; Ef 5.16; 1Pe 4.10).
I - O SIGNIFICADO DO TERMO “TRIBUNAL DE CRISTO”
Tribunal de Cristo é o primeiro dos eventos depois do
Arrebatamento da Igreja. Paulo refere-se ao Tribunal como o “bema” (2Co
5.10). O bema era um estrado ou plataforma, utilizado por oradores (púlpito) e
atletas (pódio). Os bemas históricos eram plataformas elevadas em que
governantes ou juizes se sentavam para fazer discursos (At 12.21) ou julgar
casos (At 18.12- 17). O Tribunal de Cristo é visto por alguns apenas como um
lugar de recompensas (LAHAYE, 2009, p. 462). Paulo, entretanto, chama-o de um
lugar de compensação do grego “komizo”. O Senhor atenta para o que fazemos, seja bom “aghathos” ou
mau “phaulos” e seremos compensados de acordo com nossas obras (1Co
3.10-15) (Ídem, 2009, pp. 204, 205).
II - DIFERENÇA ENTRE O TRIBUNAL DE CRISTO E O GRANDE
TRONO BRANCO
A Bíblia diz que Jesus é o “justo juiz”, de modo que todos
os julgamentos serão justos e irrecorríveis (2Tm 4-8; 1Pe 1.17) Deus julgará
tanto crentes quanto ímpios. O
julgamento dos ímpios será diante do Grande Trono Branco um evento descrito em Apocalipse
20.15, o qual ocorre após o reino milenial de Cristo que será o último
julgamento antes da eternidade futura. O julgamento
dos iníquos levará a um sofrimento proporcional à sua iniquidade (Mt 10.15;
11.23-24; Lc 19.27). Já o julgamento dos justos levará a recompensas maiores ou
menores, em proporção à fidelidade de cada um (Lc 19.11-27). Os ímpios
comparecerão perante o Grande Trono Branco que se dará depois do Milênio, os
crentes comparecerão perante o Tribunal de Cristo que se dará antes do Milênio.
E neste Tribunal, os crentes serão recompensados tomando-se por base o quão
fielmente serviram a Cristo ( Mt 28.18-20; Rm 6.1-4; 1Co 9.4-27; 2Tm 2.4-8; Tg
1.12; 3.1-9; 1Pd 5.4; Ap 2.10) (LAHAYE, 2009, p. 462).
III - QUEM SERÁ JULGADO NO TRIBUNAL DE CRISTO
A doutrina do julgamento do crente trata-se do Tribunal de
Cristo, isto é, o julgamento da igreja após o seu arrebatamento (2Co 5.10; Rm
14.10; 1Jo 4.17). É o dia da prestação de conta da nossa vida; da nossa
mordomia cristã, da nossa diaconia. Segundo a Palavra de Deus, o julgamento do
crente é tríplice. No passado, o crente foi julgado em Cristo, no Calvário, como pecador
(2 Co 5.21). No presente, ele é julgado como filho de Deus, durante a sua vida (1Co
11.31). No futuro, será julgado como servo de Deus, quanto à sua fidelidade
no serviço prestado a Deus (1Co 4.2-6; 2Co 5.10). Não será um julgamento de
pecados do crente (Rm 8.1; Jo 5.24), mas das obras do crente (Ap 22.12; 14.13).
Todos os salvos serão julgados, e não apenas alguns (Rm 14.10; 2Co 5.10). Neste
contexto, está claro que se referem aos cristãos, não aos não-crentes. O
Tribunal de Cristo, desta forma, envolve crentes dando contas de suas vidas a
Cristo. Não devemos olhar para o Tribunal de Cristo como Deus julgando nossos pecados,
mas sim como Deus nos galardoando por nossas obras.
IV - QUANDO E ONDE SERÁ ESSE JULGAMENTO
O Tribunal de Cristo acontecerá depois do
arrebatamento da Igreja. Será realizado nos
céus. A Bíblia ensina que este julgamento
será exclusivamente para os salvos arrebatados na vinda de Jesus. A questão da
salvação já foi resolvida. Não será um julgamento para condenação ou salvação,
será um julgamento para receber galardão conforme o que prometeu o Senhor
Jesus: “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um
segundo a sua obra” (Ap 22.12).Se Jesus virá com o galardão, o julgamento se
dará logo após o Arrebatamento, ainda nos ares (1Ts 4.16,17; 2Ts 2.1; Mt 16.27;
Ap 22.12; 1Pe 5.4), antes das Bodas do Cordeiro — nesta Ceia, a Igreja já
estará coroada (1Pe 5.4), vestida de linho fino, puro e resplandecente (Ap
19.7-9). Os salvos de todas as épocas participarão dessa
reunião nos ares. Jesus disse que haverá recompensa na ressurreição dos justos
(Lc 14.14). Os heróis do AT que, tendo o testemunho pela fé, morreram sem
alcançar a promessa (Hb 11.39), ressuscitarão (1Co 15.51,52) para receber de
Cristo, o Justo Juiz, a coroa da justiça, pois, como Paulo, combateram o bom
combate, acabaram a carreira e guardaram a fé (2Tm 4.7,8). Todos os salvos
arrebatados serão julgados pelas suas obras, para receber ou não galardão (2Co
5.9,10; Rm 14.10-12; 1Jo 4.17) (LAHAYE, 2009, p. 463).
V - O QUE SERÁ JULGADO
As más ações do cristão, quando ele arrepende-se, são
perdoadas no que diz respeito ao castigo eterno (Rm 8.1), mas são levados em
conta quanto a sua recompensa (2Co 5.10; Ap 14.13); isto é, tudo o que fizemos
fica registrado no Céu (Ml 3.16-18). No Arrebatamento, Jesus que conhece as
nossas obras (Ap 2.2,9,13,19; 3.8,15), trará consigo o resultado, a avaliação
de nosso trabalho. Existem cinco critérios deste julgamento que envolvem:
1º) a “lei da
liberdade cristã” (Tg 2.12);
2º) a
qualidade do trabalho que fazemos para Deus (Mt 20.1-16);
3º) o “material”
empregado no trabalho feito para Deus (I Co 3.8,12-15);
4º) a conduta
do crente por meio do seu corpo (2 Co 5.10);
5º) os
motivos secretos do nosso coração (I Co 4.5; Rm 2.16) (GILBERTO, 2009, p. 376).
O propósito do julgamento dos crentes diante do Tribunal de Cristo é determinar
se as obras de cada um foram dignas ou não. A avaliação incluirá as obras em
si, o zelo com que foram realizadas e o que as motivou (LAHAYE, 2009, p. 464).
Vejamos:
·
As Obras.
Aquilo que uma pessoa faz por Deus é
registrado em um memorial diante do Senhor dos Exércitos (Ml 3.16- 18). As
Escrituras prometem recompensas específicas para obras específicas (Mt 5.11-12;
Lc 6.21-22; 14.12-14). Deus recompensará os crentes por todas as ações que
tiverem mérito ou valor eterno.
·
Boas obras.
Boas obras do grego “agathos” podem
ser definidas como aquelas que têm sido “manifestas, porque feitas em Deus” (Jo
3.21; Ef 6.7-8; 1Ts 1.3). As boas obras são representadas por ouro, prata e
pedras preciosas. As boas obras também são chamadas de “fruto de justiça, o
qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1.11; 2.13).
·
Obras más.
Paulo falou sobre a possibilidade de
ser “reprovado” ao não conseguir viver fielmente (1Co 9.24-27). Más ações do
grego “phaulos” são desprezíveis aos olhos de Deus. Podem ser chamadas de
“obras mortas” ou “obras da carne”. O perigo de produzir obras da carne reside
no fato de que o trabalho do crente acaba sendo em vão, inútil ou vazio (1Co
15.58; 1Tm 6.20; 2Tm 2.16; G1 4.9; Tt 3.9; Tg 1.26). Obras más não possuem
qualidade, por isso são caracterizadas como madeira, feno e palha materiais de
pouco valor ou durabilidade. Estas são as ações produzidas a partir de
motivações erradas (1Jo 2,28 versão atualizada).
·
A
Motivação.
Deus sonda a nossa mente e o nosso
coração a fim de nos determinar a recompensa. A motivação de nossas obras
também será revelada no Tribunal de Cristo (Lc 12.2-3). O propósito ou
motivação de um coração legitima ou invalida os atos de uma vida (Mt 5.16;
6.1-21). Quando as obras são feitas para que outros as vejam, perdem-se as recompensas,
pois, os desígnios do coração do homem serão manifestos. (1Co 4-5; Ap 2.23).
Embora um serviço exercido por motivos errados possa resultar na perda de
recompensas, ele ainda pode ter efeitos eternos (Fp 1.14-19).
VI - QUAIS SERÃO OS CRITÉRIOS DESSE JULGAMENTO
Jesus não galardoará apenas o crente apóstolo, pastor,
bispo, missionário, reverendo, teólogo, cantor etc. O prêmio da soberana
vocação (Fp 3.14) será dado aos “servos
bons e fiéis” (Mt 25.21,23). A base do julgamento
serão “as obras”, e não “os
títulos” (1Co 3.10-15; Rm 14.12; Ap 22.12). Este
texto mostra que as obras aprovadas são as realizadas em Cristo, o fundamento. Os elementos ouro, prata e pedras preciosas
representam o trabalho feito com humildade, amor e temor, para a glória do Senhor
(1Co 10.31). Já os materiais madeira, feno e palha facilmente consumíveis pelo fogo, falam das obras feitas por
vaidade, motivações erradas e egoísmo, para receber glória e ser visto apenas
pelos homens (Mt 6.2,5). Somente serão galardoados aqueles cujas obras resistirem
ao fogo da presença do Senhor (Hb 12.29). Não existe aqui nenhuma margem para o
falso ensinamento romanista do purgatório, visto que, após a morte, segue-se o
juízo (Hb 9.27). A expressão “o
tal será salvo” não denota que a salvação só acontecerá
após esse julgamento, pois, existirem obras que, apesar de inconvenientes, não
interferem, até certo ponto, na salvação (1Co 6.12; 10.23; Hb 12.1; 1Ts 5.22).
Este julgamento será baseado em tudo o que tivermos feito por meio do corpo (Rm
14.10; 2Co 5.10; Hb 4.13; Mt 10.26).
VII - AS RECOMPENSAS DESSE JULGAMENTO
Precisamos saber de antemão que o nosso primeiro julgamento
já ocorreu no Calvário. Neste julgamento Jesus foi julgado em nosso lugar,
sofrendo o castigo do nosso pecado, a morte, para que pudéssemos ser salvos.
Agora, no Tribunal de Cristo, o crente será julgado como servo, isto é, quanto
ao seu serviço prestado a Deus e o seu testemunho (Ap 22.12). Não se trata de julgamento
dos pecados do crente, pois, nossos pecados já foram julgados em Cristo (2Co
5.21; Gl 3.13). A nossa salvação é pela graça e pela obra redentora que Jesus
consumou por nós (Hb 7.27). Haverá diferentes tipos de galardões simbolizados
por coroas e as Escrituras mencionam três dessas coroas.
Vejamos:
·
A Coroa da Vida.
Esta
coroa é concedida àqueles que perseveram em meio às provações (Tg 1.2-3,12; Ap
2.10; 3.11). Os crentes devem alegremente perceber as provações como
oportunidades dadas pelo Senhor para que cresçam e amadureçam. Sua motivação
deve também proceder do amor que sentem por Deus.
·
A Coroa da Justiça.
Esta
coroa está reservada àqueles que ansiosamente aguardam o retorno do Senhor (2Tm
4.6-8). Amar a vinda do Senhor supõe uma vida de obediência. Tamanha fidelidade
proporciona certo grau de segurança enquanto o fiel aguarda o breve retomo do
Senhor.
·
A Coroa da Glória.
Esta
coroa é prometida àqueles que apascentam o rebanho do Senhor pelos motivos
certos (1Pe 5.2-4; Fl 4.1; Dn 12.3;1Ts 2.19; Pv 11.30). Os obreiros piedosos,
dignos de recompensa, são aqueles que servem de coração, e não por obrigação.
São exemplos de uma vida piedosa para o rebanho. Reconhecem a obrigação pela
qual prestarão contas ao supremo Pastor (Ez 34-2-4).
CONCLUSÃO
No Tribunal de Cristo haverá
muitas surpresas. Coisas encobertas, positivas ou negativas, virão à tona
naquele grande Dia (1Co 4.5; 2Co 10.17,18; Pv 25.27; 27.2). As obras que
ninguém vê aqui serão expostas pelo Senhor, naquele Dia, para que todos tomem
conhecimento (Hb 4.13). Sejamos fiéis a Jesus Cristo até ao fim (Ap 2.10;
3.11), para que tenhamos confiança no dia do juízo (1Jo 4.17) e recebamos a
coroa incorruptível (1Co 9.25).
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento
Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
GILBERTO, et al. Teologia Sistemática
Pentecostal.
CPAD.
HOWARD, Rick. O Tribunal de Cristo. CPAD.
PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia. VIDA.
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo
Testamento.
CPAD.
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