INTRODUÇÃO
O mistério da
Transfiguração é, dentre todos apresentados pela Sagrada Escritura, o que
traduz de maneira mais sublime e profunda, toda a teologia da divinização do
homem Jesus, pois no monte, sua glória interna tornou-se visível externamente.
O mistério da Transfiguração tem uma íntima ligação com o mistério Pascal
(sacrifício). Poderíamos dizer que a Transfiguração é a “ponte”, que liga ou,
que introduz ao Calvário e finalmente à Ressurreição. O Cristo que contemplamos
na Transfiguração é o mesmo que contemplaremos em sua glória na eternidade.
I – DEFINIÇÃO DA
PALAVRA TRANSFIGURAR
A palavra
Transfigurar, que traduz o termo “metamorfose” mantém o sentido
de mudança de aparência, ou forma. A palavra “morphe” significa “forma”
e o termo “meta” diz respeito a “mudança”,
mas não mudança de essência (Mt 17.2; Mc 9.2; Rm 12.2). Entendemos que a
Transfiguração foi uma experiência de origem divina, uma revelação dada aos apóstolos
sobre a glória do Reino futuro no qual, Jesus é Rei. Ele foi
metamorfoseado quando “transformou-se” no monte mudando sua APARÊNCIA
física e não a sua ESSÊNCIA divina. A palavra traduzida em português como “transfigurado”
corresponde ao vocábulo grego “metamorphoõ” que significa também “transformar”,
“mudar em outra forma”, “transfigurar”.
II – LOCALIZAÇÃO
DO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
A transfiguração
é registrada em cada um dos evangelhos sinóticos (Mt 17.1-9, Mc 9.2-10, Lc
9.28-36) e também em (2 Pe 1.16-21). O local deste evento é “um alto
monte” (Mt 17.1; Mc 9.2). A associação com uma montanha também é encontrada
em (Lc 9.28; 2 Pe 1.18). Várias localizações geográficas têm sido sugeridas:
Monte Hermon, Monte Carmelo, e o local tradicional do Monte Tabor. Os
escritores bíblicos, aparentemente, não estavam interessados em localizar
exatamente onde este evento aconteceu, mas sim, registrar o que ocorreu.
III – O
SIGNIFICADO DO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
Durante toda a
Sua vida, Jesus estava sob aquele véu (seu corpo). Apenas uma única vez em Sua
vida aquele véu foi “aberto” e a Sua glória brilhou por meio da Sua carne
humana, e essa vez foi no monte da transfiguração. Foi apenas por um período
curto de tempo e, então, aquele véu caiu sobre Ele novamente até que foi
rasgado na cruz do Calvário. Jesus é "o resplendor da glória"
de Deus e "a expressão exata do seu Ser" (Hb 1.3). Ele
reflete perfeitamente a natureza e o caráter de Deus. Quando olhamos para
Jesus, podemos ver "a glória do Senhor" (2 Co 3.18;
4.6).Vejamos:
Só podemos
compreender a transfiguração de Jesus a partir da Sua encarnação. “O Verbo se fez
carne e habitou (tabernaculou-se) entre os homens, cheio de graça e de
verdade” (Jo 1.14). Quando o Filho de Deus veio a este mundo, Ele tomou sobre
Si a carne humana e essa carne serviu como um véu sobre Ele. Por esta razão,
enquanto estava na Terra, quando os homens olhavam para Ele, viam apenas um
Homem. Não viam a glória do Filho de Deus porque Ele estava coberto pelo véu. “pelo
novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne”. (Hb
10.20).
Simbolicamente,
o aparecimento de Moisés e Elias representava a Lei e os Profetas. Entretanto, a
voz de Deus do céu - "Ouçam a Ele!" - mostrou claramente que a Lei e
os Profetas deviam dar lugar a Jesus. "E disse-lhes: São estas as
palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse
tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos
Salmos." (Lc 24.44). Aquele que é o novo e vivo caminho está substituindo
o antigo; Ele é o cumprimento da Lei e das inúmeras profecias no AT. Além
disso, em Sua forma glorificada eles tiveram uma breve visualização da Sua
glorificação e entronização vindoura como Rei dos reis e Senhor dos senhores
(Ap 19.16).
João escreveu em
seu evangelho: "Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo
do Pai, cheio de graça e de verdade.” Pedro também escreveu: “De
fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, [...] Ele recebeu honra e
glória da parte de Deus Pai, quando da suprema glória lhe foi dirigida [...].
Nós mesmos ouvimos essa voz vinda do céu, quando estávamos com ele no monte
santo" (2 Pe1.16-18).
IV – O MONTE DA
TRANSFIGURAÇÃO E OS ERROS DOUTRINÁRIOS
Essa passagem
tem gerado muitas interpretações errôneas que tentam apoiar doutrinas sobre
reencarnação e manifestação dos mortos se comunicando com os vivos. A
Escritura, contudo, não se contradiz. Ela condena doutrinas que apoiam a
invocação de mortos e a necromancia. A presença de Elias e Moisés na
transfiguração significa que Jesus estava apoiado pela Lei (Moisés) e pelos profetas
representado por Elias (II Rs 2.1-11). Há ainda alguns intérpretes que veem
nesse acontecimento da Transfiguração, Moisés representando os que passaram
pela experiência da morte, já que ele morreu (Dt 34.5) e Elias como a figura
dos redimidos que serão arrebatados sem ver a morte (1Ts 4.16-17).
V - OS
PROPÓSITOS DA VISÃO NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
Um dos
principais motivos da visão no monte da transfiguração é o de demonstrar que a
Lei de Moisés (Pentateuco) e todos os profetas (Os demais livros) do AT tiveram
seu real cumprimento na pessoa magnífica do Senhor Jesus Cristo(Lc 24.44).
Importante também notar que a visão teve o propósito de fortalecer a fé dos
apóstolos, pois estes estavam prestes a ver o Senhor ser crucificado e morto.
Eles deveriam entender que antes da sua ressurreição, era necessário o
sofrimento e a morte do Cordeiro de Deus, a fim de que os pecados deles e os
nossos fossem expiados pela morte do Justo. Evidência disto são as palavras que
o Senhor Jesus lhes dirigiu imediatamente após a visão: "E, descendo
eles do monte, ordenou-lhes Jesus: A ninguém conteis a visão, até que o Filho
do Homem ressuscite dentre os mortos" (Mt 17.9).
VI – MOISÉS,
ELIAS, O MESSIAS E A TRANSFIGURAÇÃO
O texto sagrado
relata que tão logo subiram ao Monte, Jesus foi “transfigurado diante
deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se
brancas como a luz”. (Mt 17.2). Como já foi dito, a palavra transfigurar,
mantém o sentido de mudança de aparência ou forma, mas não mudança de essência.
A transfiguração não transformou Jesus em Deus, mas mostrou aos discípulos
aquilo que ele fora o tempo todo: “o verbo encarnado” (Jo 1.1; 17.1-5).
Os discípulos observaram que “o seu rosto brilhou como o sol” (Mt
17.2). O texto revela também que “suas vestes resplandeceram” (Mt
17.2). Esses fatos põem em evidência a identidade do Messias, o Filho de Deus.
Mateus detalha
que durante a transfiguração “uma nuvem luminosa os envolveu” (Mt
17.5). O fato de que Mateus escreveu o seu evangelho para judeus, põe em
evidência o fato de que Jesus é o Messias anunciado e isso pode ser visto na manifestação
da nuvem luminosa. No AT essa nuvem recebe o nome de “shekiná”, e
relacionada com a manifestação da presença de Deus (Êx 14.19-20; 24.15-17; 1 Rs
8.10, 11; Ez 1.4; 10.4). Tanto Moisés como Elias, quando estiveram no Sinai, presenciaram
a manifestação dessa glória. Todavia não como agora os discípulos estavam
vivenciando (Êx 19; 24; 1 Rs 19).
Vejamos
simbolicamente algumas curiosidades sobre este acontecimento:
Moisés e a
tipologia bíblica. No
evento da transfiguração observamos que o texto destaca os nomes de Moisés e
Elias (Mt 17.3). É perceptível nessa passagem que Moisés aparece como uma
figura tipológica. De fato, Mateus procura mostrar isso quando põe em evidência
o próprio Deus falando aqui: “A Ele ouvi” (Mt 17.5). Moisés pronunciou
exatamente estas palavras quando se referia ao Profeta que viria depois dele: “O
Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos,
semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15). A transfiguração revela
que Moisés tem seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a Lei
apontava para Ele.
Elias e a
tipologia bíblica. Elias
aparece em um contexto escatológico. O texto de Malaquias 4.5-6 apresenta Elias
como o precursor do Messias vindouro. O NT aplica a João, o Batista, o
cumprimento dessa Escritura: “E irá adiante do Senhor no espírito e poder
de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os
desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo
preparado” (Lc 1.17; Mt 11.14). Assim como Elias, João foi um profeta
de confronto (Mt 3.7); um profeta ousado (Lc 3. 1-14) e um profeta rejeitado
(Mt 11.18). A presença do Batista, o Elias que havia de vir, era uma clara
demonstração da messianidade de Jesus.
VII – ELIAS E O
MESSIAS
Tanto os rabinos
como o povo comum sabiam que antes do advento do Messias, Elias apareceria (Ml
4.5,6; Mt 17.10; 16.14). O relato de Mateus sugere que os escribas não
reconheceram a Jesus como o Messias porque faltava um sinal que para eles era
determinante — o aparecimento de Elias antes da manifestação do Messias (Mt
17.10). Como Jesus poderia ser o Messias se Elias ainda não viera? Jesus revela
então que nenhum evento no programa profético deixara de ter o seu cumprimento.
Eis os detalhes proféticos cumpridos: (a) Elias já viera e os fatos
demonstravam isso (Mt 11.13,14). Elias havia sido um profeta do deserto, João
também o foi; (b) Elias pregou em um período de transição; João prega na
transição entre as duas Alianças; (c) Elias confrontou reis (1 Rs 17.1-2; 2 Rs
1.1-4); João da mesma forma (Mt 14.1-4); (d) Mais uma vez ficara claro: João
Batista “era o Elias” que havia de vir; e Jesus era o Messias.
Os intérpretes
observam que havia uma preocupação dos discípulos sobre a relação do
aparecimento de Elias e a manifestação do Messias. Esse fato é demonstrado na
pergunta que eles fazem logo após descer o monte da transfiguração “E os
seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é
mister que Elias venha primeiro?” (Mt
17.10). O fato é que a profecia referente a Elias falava de “restaurar
todas as coisas” (Mt 17.11) e os discípulos não entendiam como o
Messias tanto esperado pudesse morrer em um contexto de restauração. Cristo
corrige esse equívoco mostrando que a cruz faz parte do plano divino para
restaurar todas as coisas (Mt 17.12; Lc 9.31; F1 2.1-11).
CONCLUSÃO
Vimos, pois, que
os eventos ocorridos durante a Transfiguração aconteceram para demonstrar que
Jesus era de fato o Messias esperado, e que tanto a Lei, tipificada aqui em
Moisés, como os Profetas, representado no texto pela figura de Elias, apontavam
para a revelação máxima de Deus o Cristo, Jesus. Esses personagens tão
importantes no contexto bíblico não possuem glória própria, mas irradiam a
glória proveniente do Filho de Deus. Ele, sim, é o centro das Escrituras, do
Universo e de todas as coisas (Cl 1.18,19; Hb 1.3; F1 2.10,11).
REFERÊNCIAS
STAMPS, Donald
C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
DILLARD, Raymond
B. Fé em face da apostasia. CULTURA CRISTÃ.
CHAMPLIN, R. N. Novo
Testamento versículo por versículo. HAGNOS.
VINE, E. W. et al. Dicionário Vine: o significado exegético e
expositivo das palavras do AT e do NT. CPAD.
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